Resquício algum sobrou das flores primaveris, agora soterradas pela neve que vai se acumulando lá fora.
Seus pensamentos estão encolhidos junto ao peitoril da janela, debulhando-se em profundos e confusos lamentos, todos vermelhos.
Ela caminha sob a grossa chuva de outono, se afogando em lágrimas alheias, observando um ou outro transeunte, invisíveis a olhos nus, os dois, ou quatro, ou sete, se assim fosse para ser (mas que talvez nunca o será), separados por um muro de porquês.
Um muro deses tais pensamentos, que observam densos flocos de melancolia e de algumas coisas que nos fazem passar noites em claro, com lágrimas nos olhos e nós apertados em cada pedaço do nosso corpo maltratado, caírem vazios, formando uma canção de adeus.
Os lamentos, vermelhos, por sua vez, refletem-se nos poucos espelhos que restaram naquela casa abandonada. Tornaram-se figuras esguias, porém apaixonadamente belas, imersas em suas redomas particulares, palpitando, não com palavras, mas somente e completamente com seu ser.
Com os pés dilacerados pelos cacos de seus espelhos (que ela mesma estilhaçara), caminhou pelo jardim coberto de branco e de sua infelicidade. Deixou seu corpo nu cair na neve, e ali jazeria, sangrando, até sua vida se esvair.
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