quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

- Uma menina que se chamava Mariana. (Diógenes)

Nunca os meus braços foram tão firmes. E, pela primeira vez, eu enxerguei brilho nos olhos de Mariana. Ali, todos emudeceram. E Mariana sentia vontade de gritar, para se mostrar viva a todos os inertes que nos rodeavam. Isto estava estampado no seu rosto. Estonteante era a admiração por aquele momento; novos aromas, novas cores, novos cheiros, sensações nunca tidas. Felicidade, acima de tudo.

Mariana era uma jovem como qualquer outra, mas isto ninguém tinha coragem de lhe dizer. Jogaram-na numa cama. Relegaram-na a dó, a compaixão e a morbidez. Tratavam-na como uma coisa imperfeita, diante de todos que andavam, falavam, sorriam... Mariana fazia tudo isso, mas ninguém notava. Mariana sorria, e todos a calavam. Mariana só ouvia “não”, “não pode”, “não dá”...e murchou.

E o mundo era monocolorido, até aquele dia. Mariana não sabia o que eram as árvores, o ar batendo na cara...e eu lhe devia tudo isto. Repousei-a na beira do lago, uma vista que lhe encheu os olhos de lágrimas. Ela titubeou e, antes que caísse, segurei-a com minhas mãos. Ninguém entendia o que fazíamos ali, e olhavam com espanto.

Se pudesse nunca sairia dali. Naquele momento Mariana soube o que é a vida: simples como ela, mas irrestrita como não queriam que ela fosse. E sem dizer uma única palavra, eu entendi que seu maior desejo era ficar ali, e não mais voltar à sua cama, à vida indigna que lhe impuseram por ser diferente...

Ela lembrou de que lhe havia falado de um lugar onde nos sentiríamos no deserto. Olhou-me. Sorriu. E chorou. Sua gratidão me confortou. Partimos em silêncio.

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